Este post é uma colaboração do nosso amigo James Vaccari, que fez passou um final de semana em Petrópolis - RJ. Esperamos que gostem deste relato!
Apesar de gostar muito de História, a do Brasil sempre me pareceu enfadonha durante os estudos acadêmicos. Talvez porque "Os Lusíadas" fosse uma leitura obrigatória traumatizante demais para uma criança. Ou talvez porque a história de um rei que veio para o Brasil fugido e com os bolsos cheios de coxas de frango não fosse muito empolgante. Ainda bem que a gente cresce, muda e passa a ver as coisas de outra maneira. E ainda bem que a fase acadêmica passa e a gente consegue tempo pra ler e se interessar por outras coisas, sem a obrigação de passar na prova depois.
Em meados de 2012, depois de um ano e meio na Europa, peguei um vôo de volta ao Brasil com uma conexão de uma tarde e noite em Lisboa. Ali reencontrava parcas lembranças das aulas de História. Mas como já estava um pouco cansado do Renascimento, das espadas e das guerras, voltei e, superando os traumas da infância, fui estudar a História do Brasil. Confesso que meus estudos se confundem entre os livros do Laurentino Gomes (1808 e 1822), o que aprendi na escola e "Independência ou Mortos" (livro que coloca nosso amigo Dom Pedro defendendo a pátria contra uma infestação de mortos-vivos). Então não vou entrar muito em detalhes históricos aqui.
Mas falando de Petrópolis...
Saí de São Paulo, de ônibus, às 23h de uma sexta-feira. Não notei a presença de uma criança no banco de trás, mas não tardou para que ela se apresentasse aos gritos para toda a humanidade que só queria dormir tranquilamente até chegar Petrópolis às 6h30 do dia seguinte. Seus gritos por "mamãe" e a inépcia de sua genitora sentada ao lado, teriam abafado até o brado retumbante da independência!
Da rodoviária fui direto ao hostel. Larguei a mochila (estava com uma mochila grande, que seria usada em uma caminhada depois, e que você pode ler aqui), dei as costas para a cama e o travesseiro que sussurravam baixinho o meu nome, e fui aproveitar o dia.
Petrópolis fica na região serrana do Rio de Janeiro, tem um clima mais ameno, e é a sexta cidade mais segura do Brasil. Era o lugar preferido do Dom Pedro II para dar aquela relaxada imperial, e virava a capital do império durante o verão. Andando pela cidade, bastante conservada, várias casas tem placas que contam um pouco sobre quem morava ali.
Fui direto para o Museu Imperial, mas só pude visitar o jardim, projetado por Jean Baptiste Binot em 1854. Ainda eram 9h e só abriria às 11h. Tirei uma foto com a família Imperial e fui para a Catedral de São Pedro de Alcântara.
Só o que eu sabia sobre a Catedral era uma passagem no livro do Eduardo Spohr, A Batalha do Apocalipse, mas surpreendentemente me deparei com uma bela igreja neogótica, e com os túmulos dedicados a Dom Pedro II (ou parte dele), Dona Teresa Cristina (a imperatriz), Dona Isabel de Bragança (a princesa) e o conde D’Eu.
De lá, fui conhecer outro local historicamente importante: A Encantada, a casa do Santos Dumont, que eu só conhecia dos desenhos do Spacca, na Graphic Novel Santô e os pais da aviação. É uma construção simples, com pouquíssimos itens, mas interessante. Lá também tem uma sala de projeção onde é exibido um pequeno documentário sobre a vida e obra desse nosso compatriota tão extraordinário. Vale uma rápida visita.
Já havia tomado um café na rodoviária, outro no hostel e mais um no café da casa do Santos Dumont. Mas haviam recomendado fortemente que eu experimentasse as delícias da Casa de Chocolates Katz, que ficava logo em frente. Então lá foi mais um café, um strudel de maçã e um chocolatinho para dar tempo do museu abrir.
Voltei ao Museu e fui surpreendido com o cuidado e o bom acervo que tem lá. É obrigatório calçar pantufas para não prejudicar o piso de madeira, o que torna a visita mais divertida se você gostar de patinação ou ski.
O Museu é um prédio Neoclássico construído a mando de Dom Pedro II para ser sua residência de verão. Ficou pronto em 1862, virou escola durante o começo da República, quando a família real precisou dar no pé, e o Getúlio transformou em museu em 1940.
Tem muita coisa interessante para quem gosta um pouco de História, mas tem muito mais para quem quer se aprofundar. Além de mobiliário da época do império, de utensílios, de roupas, medalhas, moedas, enfeites etc., tem uma biblioteca com mais de 50 mil volumes e mais de 250 mil documentos históricos. Almocei no restaurante do museu, tentando digerir toda aquela informação que não me interessou na escola.
Logo depois, fui conhecer a Cervejaria Bohêmia, onde pude visitar a fábrica e conhecer a história da cerveja, o processo de fabricação e tudo mais. Passeio que fala bastante da colonização alemã na região, o que explica a apresentação de dança alemã que estava acontecendo no Palácio de Cristal, por onde passei a caminho da cervejaria.
Depois da cervejaria, voltei ao Museu Imperial. Lá seguimos um lanceiro do Império que nos guia pelo jardim. A História do Museu e do Império é narrada através de luz e som durante a caminhada, conduzindo-nos até vermos um filme projetado nas janelas e na fonte do jardim. Tem até o Sérgio Mamberti (Dr. Vítor) fazendo o Barão do Bom Retiro, amigo pessoal do Pedrão II.
No dia seguinte, domingo, fui conhecer o Palácio Quitandinha. Foi construído em 1941 para ser o maior cassino e hotel da América Latina. Por fora tem um visual alemão. Por dentro tem uma cara vintage americana (graças à decoradora e cenógrafa norte-americana Dorathy Draper). Hoje funciona um SESC lá. E durante minha passagem por lá, ocorria o Festival de Música, além de exposições diversas. Nessa edificação também pode-se visitar a segunda maior cúpula do mundo! Só perde para a da Catedral de São Pedro em Roma!
Em frente ao Quitandinha, há um jardim, o Lago Sul e o Restaurante Lago Sul, que é fortemente recomendado pelos nativos locais, cujo o rodízio de carnes e acepipes no almoço me fez rolar vagarosamente até o ônibus de volta ao centro de Petrópolis.
Ainda tive disposição de visitar a Casa da Ipiranga. Onde o Celso Carvalho, bisneto de José Tavares Guerra, idealizador da casa, apresenta sua história. A casa, também conhecida como A Casa dos 7 Erros, foi construída em 1884, em estilo Vitoriano e hoje funciona como museu e centro cultural.
Na cocheira da casa, funciona o Restaurante Bourdeax, onde tomei o último café do fim de semana. Um café para celebrar o café, que aqueceu as manhãs de toda essa nossa História.
James Vaccari é diretor de arte e designer enquanto não viaja. Quando está viajando se mete a fotografar o que vê e a desenhar uma coisa ou outra. Prefere viajar para onde as pessoas normais se preocupariam com banho e banheiro, e gosta de andar muito. Também é instrutor de montanhismo e escalada.
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Que relato bacana! Um dos melhores postados aqui. Gostei tanto que já coloquei Petrópolis entre meus próximos destinos de viagem.
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